Por Daniela Dariano
Pizzas, batatas fritas e hambúrgueres. Aparentemente, uma boa ideia para um lanche de sábado, o hábito alimentar ao estilo americano de vida tem mostrado o lado perverso da modernidade no Brasil. Nos indivíduos, é causa de problemas de saúde física e mental. Na sociedade, sugere a perda dos laços familiares, o individualismo isolacionista e a perda de referências culturais próprias.
Não é novidade para ninguém que a troca de assados por frituras e verduras por açúcar é motivo de problemas precoces de coração, hipertensão e obesidade. Consequência do incontrolável capitalismo individualista que nos faz correr contra o tempo e recorrer a refeições rápidas e inconsistentes, a junk food tem acostumado os médicos com um perfil de paciente mais jovem.
Assim, cresce uma neurose. Mal alimentados e gordos, os brasileiros correm atrás de dietas malucas, transformando seus corpos em verdadeiras sanfonas e suas cabeças em fácil objeto de complexas análises psicológicas. Fritura, gordura, regime, fome, fritura, mais gordura… Aí surgem, ou são alimentados, os distúrbios da psique como a anorexia nervosa, a bulimia, a neurose, a ansiedade.
Levando a ideia para a sociedade, temos que suas consequências sobre a sociedade não são menos devastadoras. Onde foram parar os almoços em família em que a socialização, a troca de ideias e afeto ocorriam? Onde foi parar a dedicação e o carinho das mães (ou, justiça seja feita, dos pais) em preparar um prato para os filhos? Há quem já nem sinta falta de uma comidinha caseira. Não há tempo para isso. Assim, um momento que era de comunicação e manutenção das relações afetivas, deixa de existir simplesmente.
Numa linha lógica de raciocínio, percebemos: o desencontro familiar, a falta de tempo para a socialização são paralelos à solidão, ao isolamento. O individualismo moderno é irmão e aliado daquela lancheria na esquina do escritório, daquele cachorro-quente da praça no centro da cidade.
Com uma visão limitada, já que não olhamos para os lados em nossa pressa diária, solitários em nossa corrida contra o relógio, sem raízes fortes que justifiquem uma vida em família, esquecemo-nos de nós. Com o incessante metralhar de letreiros de todas as cores e formas anunciando mais um take away, fast food e vans de todos os tipos, tornamo-nos o espelho sujo, pobre, da cultura norte-americana campeã do colesterol.
sobre o autor
- Comunicação1999.06.03Comunicação integrada: um impasse permanece
- Geral1999.06.01A pressa e a saúde
- Política1999.05.29Em tempos de ressaca