O bicho virtual é você

 Por Rodrigo Celente Machado

Todo mundo teve (ou conheceu alguém que teve) um Tamagotchi. O animal de estimação eletrônico virou mania. Habitante de um miniaparelho, misto de chaveiro e computador, o bicho era na verdade um ser inexistente. Só o que se tinha dele eram sinais: de fome, sono, carência afetiva. Apertando botõezinhos, era possível saciar-lhe as necessidades e os desejos. Na tela minúscula, surgia então um sorriso, indicando que o mascote estava feliz.

O dono, sempre uma criança (de qualquer idade), sentia-se grandioso, provedor de carinho e cuidado. Pensa que cuidava do bicho, mas era o bicho quem cuidava dele (e de suas ansiedades).

O novo brinquedo era e ainda é a síntese da nova era, que é medida e ordenada por telas luminosas. Não apenas a microtela do bichinho, mas a tela do computador, do painel eletrônico do automóvel. Tudo se organiza como um complexo indivisível, um Tamagotchi planetário.

O caixa eletrônico avisa que a conta está no vermelho; é preciso um depósito para que ela fique contente. A televisão não para de insistir: é dia das Crianças, ai de quem se esquecer dos presentes. No monitor do micro, pisca a mensagem não lida.

Hoje estamos todos virtualizados. Além das contas a pagar e dos recados inúteis, também as demandas emocionais navegam pela teia eletrônica. E a isso se reduz o relacionamento humano: a uma troca de estímulos digitalizados e respostas idem.

Para esse sistema, virtual é o homem.

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