Por Leonardo Carvalho
Dia desses, resolvi levar um livro para passear na Redenção… Quem nunca fez isso não sabe como é bom sentar num dos bancos do parque, sacar do livro e ficar por lá, com um olho no papel e outro no movimento constante – detalhe… o sol era de rachar.
Se disse que o movimento era constante, vale ressaltar o detalhe do fim do parágrafo anterior – o sol era de rachar – o que aumenta consideravelmente o movimento do parque como aumentaria em qualquer cidade do mundo.
Em dias de sol, os parques de qualquer cidade do mundo são tomados de donos de cachorro com e sem cachorro, esses últimos parando a cada cachorrinho que passa ao lado para tecer um comentário ou para perguntar simplesmente: “Que raça ele é?” Ou, ainda, “é ele ou ela?” Também tem os esportistas de fim de semana ou de semana inteira. A gente consegue diferenciar os dois porque os primeiros bufam um pouquinho mais. Tem criança com e sem balão, chorando e rindo. Tem velho e velhas e velhos e suas velhas e seus velhos. Pipoqueiros, sorveteiros e afins. Bicicleta e patins. Dá de tudo um pouco.
E, no meio disso tudo, tem sempre uma ou outra figura que chama a atenção da gente. Aos nossos olhos, essa figura sempre demora mais de passar.
No caso do dia em que resolvi levar o livro para passear, a figura que demorou de passar era um velho que mais parecia um fantasma. Ele usava bombachas, um lenço maragato e era cinza. Tudo bem que nada disso chamaria a atenção num dia de sol. O que era realmente de se notar é que ele, além dessa paramentação, empurrava um carrinho de Coca-Cola, no qual ostentava pendurada uma bandeira do Rio Grande do Sul. Completando a caracterização, o fantasma usava uma bandeira de Cuba nas costas.
O que chamou a atenção não era a possibilidade de ele ser um fantasma, chamou a atenção o fato de ele ser um fantasma contraditório.