Argumentação ou consentimento

Por Joni Johann

Diziam-me que com o amadurecimento vem a preocupação e a responsabilidade. Hoje insiro-me num grupo de pessoas que renegam essa afirmação. Desde muito jovem, 12 ou 13 anos, sempre me interessei por questões de natureza social: política, justiça… Agora, dez anos depois, cansei-me. Já não me instigam as discussões prolixas, já não me atraem as ideológicas incertezas da política. Passei a gostar de filmes de ficção científica.

Com o tempo e o desencantar, perdi, ou guardei, minha retórica, bloqueei minha dialética argumentativa e passei a detestar as pessoas que insistentemente incidem por tais recursos e características. Ao contrário do que possas pensar, não foi por inveja, por ter perdido, guardado – talvez perdido a chave – que passei a assim pensar.

É que percebi que é perda de tempo dizer “Quero o muro azul!” se o pintor se faz de surdo, só conhece a tinta vermelha, tem um acordo com o fabricante de tinta vermelha, ou simplesmente é colorado. É perda de neurônios acreditar que o mundo está mudando, pois não está. O que está mudando são as pessoas – o caráter das pessoas – e para pior.

A única, e não se choque pelo única – maneira de se fazer o pintor usar o azul, contra sua vontade, é forçar-lhe a isso. É o que se faz como consumidor. Igualmente, para exigir nossos direitos num supermercado, não adianta argumentar, exceto por um argumento – vou ligar para o Procon.

Não quero aqui fazer alusão a uma ideologia do uso da força, mas sim registrar a necessidade diária que se faz desta nas mínimas situações. É de natureza do homem o uso da força. Entendo que a guerra, a perda de vidas, sejam horríveis, mas, mesmo assim, a deflagração de uma guerra ou ameaça tem sua utilidade.

De nada adianta discussões intermináveis se vivermos em um país governado por uma minoria, agora sim – não eu – sedenta de sangue. Pouco importa se eles não jorram o sangue pelas suas próprias mãos.

As crianças que morrem de desnutrição não sangram. É a intelectualidade necessária e indispensável, mas para um intelectual tem de existir um exército de soldados, até instruídos ou com opinião própria, mas dispostos a seguir um líder, sem contestá-lo por inveja e egoísmo.

Devemos ser esse exército. Não vamos desbravar nossa vaidade intelectual em disputas inúteis entre aqueles que amamos. Vamos alcançar o despertar de nosso espírito lutando contra aqueles que nos odeiam. Quero um movimento estudantil, e não a movimentação de indivíduos estudiosos. Quero o poder – sim, gosto dele -, mas o quero para acabar com o poder de avassalar famintos que o poder tem hoje.

Francamente, não vejo luz no fim deste túnel. Vejo sim inúmeras rachaduras, pelas quais vejo o sol. Vejo pessoas de bem – caráter – que com o devido apoio e instrumentos podem conduzir-nos para fora do túnel, desbravando as rachas dele e destruindo-o se possível.

Se ao tentar comigo este texto comentar e, talvez não, eu o ignorar, não estarei sendo egoísta, vaidoso ou arrogante, estarei sendo coerente com minha preocupação e responsável com minha necessidade de ser irresponsável.

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Joni Johann

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