De Armínio Fraga à Famecos

Por Moacir Zandonai

 

Armínio Fraga. Foto: Gisele Federicce

Armínio Fraga, presidente do Banco Central (BC), tem atribuições claras. Deve defender a moeda nacional, conter a inflação através de medidas diárias, negociar os juros de títulos federais lançados no exterior, controlar a flutuação do câmbio. Até aí, tudo bem.

Há alguns meses, Décio Freitas relatou uma visita sua a algum tipo de fórum de bancos centrais de importantes países europeus. A velha ladainha do discurso neoliberal foi recitada: contenção da inflação através de juros altos, política de câmbio, redução do déficit público para obrigatoriamente abaixo de 3% ao ano, bla bla bla.

E o desemprego? Ah, bom; isto não é da alçada de um banco central. Até aí, tudo bem. O problema é que, na economia de hoje, o Banco Central de um país tem mais importância do que quase todas as outras pastas de um ministério. O neoliberalismo põe a ênfase e o poder nas mãos do mercado financeiro, em detrimento de todas as demais áreas, inclusive os setores produtivos da economia. Em países como os Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) chega a ser quase todo autônomo em relação ao governo. Alan Greenspan, presidente da instituição, tem um mandato e só vai sair depois que o Bill Clinton parar de cantar estagiárias na Casa Branca (ou seja, quando o inquilino já for outro – Al Gore, se os democratas ganharem no ano que vem).

Ou seja, não importa qual o partido, o Fed continua o mesmo. É quase um quarto poder institucional, e os cidadãos não têm muita coisa a fazer a respeito. A questão, assim, é simples: se a área econômica é a mais poderosa do governo, e não está nem aí para área social, então como é que fica?

Não fica. A questão social é reduzida a mero detalhe. As pessoas vivem em função da economia, o ser humano é um número estatístico.

Desemprego, saúde pública, previdência, violência urbana e segurança, questão agrária, setores produtivos em dificuldade. Tudo um monte de assuntos de terceira importância, relegados a segundo plano em função do mercado. Que, diga-se de passagem, não é livre coisíssima nenhuma. O governo não interfere na economia? Então quem explica a ajuda do BC, na surdina, aos bancos? O governo Francês não abre mão de subsídios à agricultura, nos Estados Unidos o protecionismo sob pretextos mil come solto e ninguém na Terra consegue entrar no mercado japonês.

Na verdade, a ideia de que o neoliberalismo não se preocupa com o desemprego é uma das maiores balelas do discurso. O desemprego tira o poder dos sindicatos, reduzindo os direitos trabalhistas e o valor da mão de obra. Neste modelo, o que interessa não é a produção ou o crescimento econômico, mas o lucro. Com o corte de despesas através da redução de salários, lucra-se mesmo com um preço final reduzido. O extremo disso é o caso Nike – Indonésia. Tudo para agradar o Conselho de Acionistas.

É claro que, para isso, a sociedade civil deve ficar bem quietinha, para não resistir a seu afastamento do poder. Para desmobilizar a sociedade, a mídia de massa é fundamental. A comunicação é hoje um negócio transnacional multibilionário, e ninguém depõe contra seus próprios interesses. A cultura exacerbadamente individualista e o consumismo acima de tudo ajudam a criar gerações de debiloides atomizados e alienados politicamente. Gente-gado para patrolarem. Na reeleição de Clinton, o tarado ruim de mira teve apenas 25% dos americanos aptos a votar. “Just do it”, seja uma marionete. E nós, famequianos, somos os futuros peões da Nova Ordem, e nosso ego cresce enquanto nosso cérebro murcha. 

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