Por André Roca, Moacir Zandonai Jr. e Nestor Tipa Júnior
Katia Suman é uma das comunicadoras mais influentes junto ao público jovem no Rio Grande do Sul. A comunicadora da Ipanema FM nos fala (na boa) sobre tudo nesse papo que rolou via e-mail: rádio, Internet, política, lazer… enfim. Vale a pena curtir.
André Roca – Por que a escolha pelo rádio? Como tudo começou?
Katia Suman – Foi meio por acaso, meio “tinha que acontecer”. Eu tinha milhões de outros interesses – teatro, publicidade, literatura – mas o rádio estava sempre lá. Literalmente ligado. Sempre estive antenada em música, no que estava rolando. E, quando me vi de volta a Porto Alegre, depois de sete anos em São Paulo, aconteceu. Eu descobri a Bandeirantes, que era o embrião da Ipanema. Me identifiquei com a linguagem, o repertório, a coisa toda. Bati na porta, levei um projeto. Estava chegando de São Paulo, cheia de informação. Tri a fim.
Roca – Como você vê a interação entre rádio e Internet? Quais os benefícios que a Internet trouxe ao rádio, se trouxe?
Katia – Trouxe vários e vai trazer ainda mais. Fomos a primeira rádio do sul a entrar na Internet com homepage e real áudio. Pra ser bem precisa, fomos a segunda FM brasileira a entrar na rede (a primeira foi a Brasil 2000 de São Paulo). Estamos estreando uma nova homepage agora em março, com muita informação, ampliando nossa participação na rede. Através da Internet ampliamos nosso público e criamos uma rede de colaboradores muito especiais, que inclui os jornalistas Luiz Antônio Mello (diretor da extinta e cultuada rádio Fluminense FM), direto do Rio de Janeiro, e Fernando Naporano, direto de Londres.
Roca – O que a comunicadora Katia Suman pensa da atual situação econômica do país?
Katia – Perguntinha complicada. Olha, se esses caras que aí estão, todos hiper-super-versados, todos PHDíssimos, não conseguem chegar a um acordo sobre a situação, imagina eu, imagina nós, que não entendemos nada e pagamos o pato.
Vou dizer o quê? Posso dizer que o mundo todo vive uma crise econômica – diariamente assistimos a uma crise, nos mais diversos cenários. Os tigres asiáticos, que eram os “TIGRES asiáticos”, dançaram. Viraram gatinhos nas mãos do capital especulativo. O Japão, que eu ouvi dizer a vida inteira que era um exemplo de competência econômica, dançou. Nessas alturas do campeonato, México e Rússia eram favas contadas.
E aí? E aí que fica mais do que demonstrado que o mercado financeiro é altamente instável e não pode ser o centro da economia. Há muita miséria, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. E me parece que a Europa já sinaliza a necessidade de mudança na condução das políticas econômicas e sociais, com a ascensão da esquerda em países importantes como França, Inglaterra e Itália.
Roca – Qual banda gaúcha você acha que vem desenvolvendo um bom trabalho e certamente irá se destacar em 1999?
Katia – Tem muita banda boa aqui no sul. Acho que muitas vão brilhar neste ano. Poderia citar a Comunidade Nin-Jitsu, Ultramen, Cowboys Espirituais e Papas da Língua, que estão merecendo uma consagração nacional.
Nestor Tipa Júnior – O que a Secretária Eletrônica da Ipanema pode representar no sentido de integrar o ouvinte e o comunicador?
Katia – A Secretária Eletrônica é a voz do ouvinte no ar, é a crítica, a sugestão, o comentário, o elogio, a bronca. A Secretária Eletrônica pintou do Talk Radio. E aproveito pra avisar que o Talk Radio está voltando, atendendo a miiiiiiiiilhares de pedidos. Pra quem não sabe, é um programa que eu fazia, há alguns anos, com a participação dos ouvintes por telefone. O programa propõe um tema e todo mundo pode dar sua opinião. O que faz toda a diferença nesse tipo de programa é o nível do debate, que depende basicamente dos ouvintes. E nesse ponto a Ipanema FM é a melhor de todas: nossos ouvintes representam as melhores cabeças deste sul do Brasil. Temos muito orgulho disso. O programa estreia dia 8 de março, às 10 da noite.
Tipa – O que você curte durante suas horas de lazer?
Katia – Gosto muito de ler. Estou lendo agora três livros bem legais: um é o romance de estreia de uma indiana chamada Arundhati Roy, “O Deus das Pequenas Coisas”; outro é o festival de maledicência contra o Brasil, de Diogo Mainardi; e, finalmente, o livro de ensaios do Luís Augusto Fischer, “Para Fazer Diferença”. Costumo dizer que sou a “rainha do lar” , porque adoro ficar na minha casa, lendo, ouvindo música, recebendo os amigos, essas coisas simples. Minha próxima empreitada é culinária: quero aprender a fazer sushi e sashimi.
Moacir Zandonai Jr. – Como você analisa o atual momento do mercado fonográfico no Brasil, no Mercosul e nos EUA?
Katia – O mercado fonográfico no Brasil vai muito bem, obrigado: nunca se vendeu tanto disco de artista nacional como agora. Isso é bom. Agora, se a gente pensar em termos mundiais, a indústria fonográfica vem perdendo terreno – é um tal de enxuga daqui, enxuga dali, um grupo absorve outro, aquelas coisas. Na verdade esse setor é hiper-super monopolista: são quatro ou cinco grandes grupos que detêm o controle desse mercado. E isso não é bom. E essa onda do MP3 certamente vai bagunçar o coreto. Por que neguinho vai comprar disco se pode gravar pela Internet e reproduzir no seu “walkman”? Estou falando daquele aparelhinho que a indústria fonográfica não queria que fosse fabricado, o tal Rio, que reproduz arquivos em MP3. E tem também a questão da pirataria. Por que neguinho vai comprar disco por vinte reais, se pode comprar por cinco? Tá tudo bem, tem a questão ética e tal. Mas que ética tem essa política de preços? É óbvio que a indústria fonográfica vai ter que rever seus preços. Pensando bem, tudo o que desestabilize esses tubarões da indústria fonográfica vai acabar sendo bom para o consumidor e para o artista.
Zandonai – O que você acha do movimento de DJs do Rio e de São Paulo contra a Axé Music? Você acha válido um determinado grupo dentro do mercado musical chocar-se frontalmente com um estilo?
Katia – Acho que é inócuo. Não vai acontecer nada. O gosto popular não vai se moldar por causa de um movimento.
Zandonai – Comente o seu tempo na Rádio Atlântida. Por que você saiu? Como foi parar na Ipanema?
Katia – Eu passei pela Atlântida muito rapidamente. Eu só cito esse fato porque foi lá que eu comecei efetivamente. Aprendi a falar no microfone, aprendi a operar, convivi com a Ananda Apple, que fazia os textos, e foi tudo legal. Saí porque tinha que sair – foi só um estágio, um aprendizado. Foi ótimo. Quando eu fui pra lá, já estava aguardando uma vaga na Ipanema. Que pintou logo na sequência.