Por Alejandro Morales Vargas*
Tradução: Nestor Tipa Júnior
Uma singular irregularidade acadêmica provocou centenas de futuros comunicadores que se uniram com o propósito de salvar sua carreira.
Em 5 de abril deste ano, se desatou uma notícia que mexeu com o meio jornalístico chileno: o diretor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade do Chile estava outorgando secretamente o título de jornalista a um professor de espanhol amigo seu, sem que este cursasse o currículo do curso.
O escândalo se evidenciou quando a diretora da Escola de Jornalismo (que depende da Faculdade antes mencionada), descobriu que seu superior estava dentro de um viciado processo de homologação mediante o qual se validavam automaticamente 49 ramos de Pedagogia em Castelhano por seus “equivalentes” da Licenciatura em Comunicação Social. Em síntese, um professor passava a ser jornalista sem que jamais estudasse os cursos correspondentes.
A reação dos estudantes diante o lamentável caso de corrupção não foi de espera. Ainda mais quando se soube que o beneficiado com o título era um conhecido personagem da televisão chilena que se caracterizava por seu desempenho no mais frívolo da farândola local.
Como “um grave atropelo à carreira de Jornalismo”, colocou a comunidade estudantil tal ação de parte de seu diretor e exigiram sua automática expulsão. O próprio reitor da Universidade do Chile reagiu indicando que a situação significava uma mancha na honra da universidade e que os responsáveis deveriam ser castigados.
O ato ainda é investigado por um sumário que sustenta a Corregedoria Geral da República, mas o mais significativo foi os efeitos que o particular episódio gerou no âmbito jornalístico nacional.
Carreira Universitária?
A primeira Escola de Jornalismo no Chile foi fundada em 1953 (precisamente na Universidade do Chile) e sua gênese responde a um desejo dos meios de comunicação existentes de profissionalizar seu pessoal. Desde aquela data já são mais de 35 as instituições que oferecem a docência em comunicação social por todo o país.
No entanto, ainda coexistem duas realidades paralelas. Por um lado estão os jornalistas autodidatas, no qual aprenderam o ofício antes que existissem as escolas especializadas ou pessoas que simplesmente encontraram trabalho em algum meio e gostaram da missão de informar. Por outro lado, estão os profissionais da comunicação que seguiram a carreira universitária como corresponde atualmente.
Esta situação faz com que muitos jornalistas se questionem se sua carreira deve ser necessariamente ensinada nas universidades ou basta apenas adquirir as técnicas básicas trabalhando diretamente. Alguns acreditam que “o jornalista nasce, não se faz”.
É neste ambiente, de questionamento constante por parte dos profissionais da “velha guarda”, que a reação dos jovens jornalistas ante às irregularidades acadêmicas ocorridas significou a reposição de um tema pendente: a reivindicação do jornalismo como carreira universitária.
Centenas de alunos se organizaram na Federação de Estudantes de Jornalismo do Chile (FEPECH) e levaram suas críticas ao sistema de docência em comunicações, o que gerou um intenso debate que se traduziu em uma grande unidade e permanente espaço de diálogo em torno da carreira.
Os feitos ganhos com o insólito caso de homologação de currículos deram um novo ímpeto aos futuros comunicadores sociais, no qual se expressaram à opinião pública que são tão importantes como um arquiteto ou um engenheiro, e que não porque sua carreira seja relativamente “nova”, pode ser pisoteada impunemente.
* Estudante de Jornalismo da Universidade de Chile
sobre o autor
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